CONSTRUÇÃO DE PROTOCOLO CLÍNICO DE ATENDIMENTO DO SERVIÇO DE ESTOMATERAPIA EM UM CENTRO DE TRATAMENTO DE QUEIMADURAS
Resumo
INTRODUÇÃO: A Estomaterapia é uma especialidade da Enfermagem que presta assistência a pessoas com feridas complexas, estomias e incontinências no âmbito da prevenção, tratamento, reabilitação, ensino e pesquisa. Dentro do campo das feridas existem as lesões causadas por queimaduras que dependendo dos graus, extensão e dos agentes causais podem se tornar feridas complexas e de cuidados prolongados necessitando de tratamentos especializados em centros com equipes multiprofissionais. Nesse contexto a presença do Estomaterapeuta dentro desses centros especializados vem sendo de suma necessidade, já que esse profissional pode implantar um cuidado sistematizado com tecnologias para o tratamento das lesões trazendo impactos qualitativos e quantitativos para ao atendimento a esse público, esse contexto acaba demandando assim a necessidade de criação de um protocolo clínico com fluxos a serem implementados dentro dos diversos nichos assistenciais e contemplando as variadas demandas dos pacientes atendidos de um setor complexo e especializado para tratamento de queimados. Assim é de essencial importância a criação de protocolos, os quais devem ser guias de orientação sucinta, que auxiliem na prática diária¹ e padronizem fluxos e condutas para pacientes com lesões por queimaduras, devidamente respaldados em evidências científicas possibilitando o envolvimento de todos os atores em colaboração com o serviço especializado de Estomaterapia da instituição. OBJETIVO: Apresentar a construção de um protocolo clínico abordando os fluxos assistenciais e condutas clínicas do serviço de estomaterapia no cenário de uma unidade para tratamento de queimados. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa metodológica, a qual envolve investigação dos métodos de obtenção e organização de dados e condução de pesquisas rigorosas. Os estudos metodológicos tratam do desenvolvimento, da validação e da avaliação de ferramentas e métodos de pesquisa. As crescentes demandas por avaliações de resultados sólidos e confiáveis, testes rigorosos de intervenções e procedimentos sofisticados de obtenção de dados têm levado a um aumento do interesse pela pesquisa metodológica entre enfermeiros pesquisadores². Realizada no período de março de 2022 a março de 2023 em um centro de tratamento de queimaduras referência para atendimento estadual de um hospital público da capital cearense referência no atendimento em trauma. A pesquisa foi constituída pelas etapas: diagnóstico situacional para estabelecer a estrutura conceitual e definir os objetivos do protocolo; revisão de literatura pertinentes ao tema proposto e construção do instrumento embasado nos principais guidelines de associações/sociedades internacionais e nacionais para tratamento de queimaduras, adaptando ao contexto assistencial da instituição e as normas e rotinas já aprovadas dessa. O material foi confeccionado e enviado para avaliação e diagramação no setor de assessoria da qualidade da instituição. O estudo está eticamente respaldado pelo parecer CAEE Nº 611.459.22.3.0000.5047 do Comitê de ética em pesquisa institucional. RESULTADOS E DISCUSSÕES: Em um primeiro momento o protocolo faz uma explanação geral do funcionamento da Comissão intra- hospitalar de tratamento de feridas / Núcleo de Estomaterapia da instituição , sua composição profissional e como se dá o seu funcionamento dentro do contexto hospitalar e as unidades abrangidas pelos seus atendimentos , após isso o documento se volta a explicitar como se define a atuação da Estomaterapia no núcleo de queimados dentro de todos os seus espaços nesse complexo assistencial, os quais são: Ambulatório de Queimados, Unidade de Internação Clínico-cirúrgica adulta e pediátrica, Sala de Balneoterapia e Centro Cirúrgico. Além disso o serviço presta assistência a pacientes queimados em outras unidades da instituição como a emergência, traumatologia, unidades de terapia intensiva, dentre outras. Para cada um desses setores foram criados fluxogramas de atuação específicos do serviço de estomaterapia, os quais vem ilustrados no protocolo, que são: Fluxograma de atendimento em Estomaterapia na Sala de Balneoterapia ( que define a atuação do serviço dentro do processo de balneoterapia anestésica ou trocas de curativos comuns , desde a definição de limpeza das lesões, escolha de coberturas especiais, atuação multiprofissional para decisão de procedimentos cirúrgicos que o paciente ainda precise como desbridamentos, enxertias; inspeção de integridade da pele; cuidados com lesões de outras etiologias que não as queimaduras; cuidados com estomias, proporcionando seguimento do cuidado dentro do processo de internação, na desospitalização com acompanhamento ambulatorial e na referência responsável para outros serviços de saúde); Fluxograma de atendimento em centro cirúrgico (define atuação no pré, no intra/trans e no pós-operatório desde o preparo da lesão para enxertias, desbridamentos, dentro do processo cirúrgico padronizando protocolos de limpeza e selecionando coberturas para lesões, gerenciamento de enxertos e áreas doadoras de pele) e o Fluxograma de atendimento em ambulatório (onde é dado seguimento de pacientes internados que estavam sendo acompanhados pelo serviço de estomaterapia ou pacientes que não são critérios de internação mas precisam de atenção ambulatorial). Na segunda parte o protocolo se dedica a explanar sobre a terapia tópica a ser utilizada em queimaduras pontuando desde a padronização de limpeza das lesões, prevenção e tratamento do biofilme em feridas complexas até a terapia tópica. Assim são mostrados fluxos de uso de coberturas em vários cenários de acordo com os espaço assistencial e das características e estadiamento da lesão por queimadura que são: Curativos realizados pela primeira vez em ambulatório de queimados/pronto atendimento em pacientes sem critério de admissão para internação hospitalar, excetuando queimaduras em face e genitália; Curativos realizado pela primeira vez atendidos no pronto atendimento/ambulatório com critérios de internação, exceto para face e genitália; Fluxograma decisório para uso de coberturas em queimaduras superficiais; Curativos de queimaduras de 3º grau; Fluxogramas de coberturas para gestão do exsudato; Gestão de Flictenas; Gestão de Hipergranulação; Curativos e Coberturas em Áreas Especiais; Atendimento às farmacodermias (o serviço também é referência para essas afecções de pele). Em última parte, o protocolo vem trazendo o portfólio de coberturas padronizadas na instituição e sua aplicação no tratamento de queimaduras, como forma de utilização, preparo especial, principais indicações e contraindicações, tempo de troca e demais manejos específicos. CONCLUSÃO: A construção e implantação de um protocolo assistencial do serviço de Estomaterapia dentro de uma unidade complexa e tão especializada como um centro de tratamento de queimaduras vem potencializar o empoderamento e respaldo da especialidade dentro do organograma e processos institucionais permitindo que a equipe multiprofissional trabalhe de forma integrada para a construção de boas práticas na assistência ao paciente queimado e na condução de suas lesões que são na maioria das vezes complexas e de difícil cicatrização. O trabalho baseado em recomendações de órgãos nacionais e internacionais e de publicações renomadas da área proporciona o gerenciamento e uso racional de tecnologias e insumos gerando um melhor custo-benefício para instituição, proporcionando também qualidade no atendimento e na experiência ao paciente. O protocolo está em fase de finalização para publicação na intranet institucional, e como capítulo do manual de normas e rotinas do Núcleo de Queimados e no Manual de Boas práticas do serviço de Estomaterapia, podendo sofrer atualizações de acordo com novas evidências científicas, ficando disponível assim aos profissionais e sendo difundido em momentos de educação continuada.