AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE PESSOAS COM ESTOMIAS INTESTINAIS CADASTRADAS EM SÃO LUÍS-MA
Resumo
INTRODUÇÃO: A confecção do estoma consiste na abertura de um orifício, com o objetivo de proporcionar comunicação artificial entre órgãos com o meio externo a fim de executar eliminação, excreção, ou nutrição, permitindo que uma pessoa realize as funções fisiológicas do corpo de forma eficaz1,2. OBJETIVO: Avaliar a qualidade de vida das pessoas com estomia intestinal cadastradas em São Luís – MA. MÉTODO: Trata-se de um estudo descritivo transversal com abordagem quantitativa, realizado no Programa de Estomizados do Serviço de Órtese e Prótese da Secretaria Municipal de Saúde (SEMUS) de São Luís-MA. A População foi composta por 1.145 estomizados intestinais, colostomizados e ileostomizados, com idade igual ou maior que 18 anos, cadastrados até dezembro de 2021. Como critérios de inclusão pessoas com estomias intestinais de eliminação (colostomias e ileostomias) cuja confecção da estomia tenha sido realizada há pelo menos 06 meses, e que se dispuseram a participar da pesquisa. A amostra constou de 154 participantes. Foram utilizados os seguintes instrumentos para coleta de dados: questionários sociodemográfico e clínico elaborados pelo Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Saúde do Adulto (GEPSA), fundmentado na literatura, e Questionário City OF Hope- Quality OF Life-Ostomy (COH-QOL-OQ), específico para avaliar qualidade de vida de estomizados, adaptado e validado para língua portuguesa, por Gomboski e Santos3, e no Brasil por Santos e Cesareti4. No Brasil, a versão em língua portuguesa do COHQOL-OQ é o primeiro instrumento específico para medir a QV relacionada à saúde (QVRS) em pessoas que vivem com uma estomia4. Este questionário contém 43 itens, divididos em quatro domínios: bem-estar físico (itens de 1-11), psicológico (itens 12-24), social (itens 25-36) e espiritual (itens 37-43). Cada item respondido com o apoio da escala Likert de 0-10 na qual o zero (0) representava o pior resultado e 10 o melhor, resultado é reverso quando positivo para zero (0)3,4. Os instrumentos abrangeram variáveis sociodemográficas e clínicas, a coleta de dados teve início após aprovação do Comité de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) parecer 3.294.371/2019, a coleta foi realizada no período de agosto de 2019 a dezembro de 2022, interrompida no período de março de 2020 a julho de 2021 por motivos sanitários da pandemia por COVID-19. RESULTADOS: Identificou-se predominância do sexo masculino, 97 (63,00%). Idade média dos entrevistados foi igual a 49,94 anos, a faixa etária de maiores de 60 foi a que mais prevaleceu, com 47 (30,52%). Quanto à procedência, 86 (55,8%) relataram ser da capital São Luís. Quanto a cor da pele, 95 pessoas se autodeclararam pardos, (61,69%). O nível de escolaridade predominante foi o ensino fundamental incompleto, seguido por ensino médio completo, respectivamente 54 (35,06%) e 48 (31,17%). Quanto à religião, 77 pessoas (50,0%) se diziam católicos, do total de entrevistados, 125 pessoas (80,6%) praticavam a religião. Para os participantes do estudo 111 (71,70%) não trabalharam após confecção da estomia. Já no que concerne à renda mensal em salários-mínimos (SM), houve um quantitativo semelhante entre aqueles que recebiam até 1 SM e aqueles que recebiam de 1 a 2 SM, totalizando 129 pessoas com renda mensal até 2 SM (65 recebiam < 1 SM e 64 entre 1 e 2 SM), ao passo que essa parcela representou 83,9% do total de pessoas com estomias intestinais. Ainda sobre a renda, 7 (4,8%) não tinham renda mensal. Quando questionados sobre rede de apoio, 113 pessoas (73,0%) relataram familiares, amigos e grupos de igreja como rede de apoio. O tipo de estomia mais prevalente foi a colostomia (81,2%), com tempo de permanência definido como “temporária” em 61% dos pacientes. Como causa, identificou-se junto aos entrevistados o câncer como causa mais prevalente 47,4%; 52% negaram complicações decorrentes da estomia; 90,9% tinham bolsa do tipo drenável. O tempo de acompanhamento no programa variou de 2000 a 2021. Dos analisados, 64,3% diziam ter despesas extras decorrentes da estomia. Quanto ao tipo de domicílio, 146 pessoas (94,80%) relataram residir em casa, dentre essas, em domicílio próprio 124 (80,51%), somente 18 pessoas (11,69%) afirmaram residir em casa alugada; dispunha de um morador responsável pelo domicílio 84 pessoas (54,55%); 97 pessoas (62,99 %) referiram ter um banheiro, seguido por 2 banheiros 39 pessoas (25,32%); dispunham de luz elétrica 153 (99,40%); lixo coletado pelo serviço público de limpeza 124 (80,52%); água fornecida por rede geral de distribuição conforme relatos de 101 pessoas (65,58%). Como relevância para o cuidado a pessoa com estomia a adequação do ambiente domiciliar, no que diz respeito a estrutura, um ambiente acolhedor, onde a pesquisa evidenciou uma população com faixa etária de maiores de 60 anos (30,52%) e com restrição em suas atividades laborais, sendo que os participantes do estudo 111 (71,70%) não trabalhavam após confecção da estomia, restringindo-se assim a permanecer o maior tempo em seu domicílio. Quanto às variáveis de qualidade de vida, destacam-se o bem-estar físico geral com média 4,05, valor considerado positivo para a qualidade de vida relatada pelos entrevistados. Neste domínio, a questão tem resultado reverso, sendo postivo para zero. Seguido pelo bem-estar espiritual que teve maior nota dentre os participantes, sendo a média de 8,45. Quanto ao bem- estar psicológico a média obtida foi de 5,85 confirmado pelos itens de satisfação pela vida, memória preservada, sentir-se útil, ter controle de sua vida. A secção referente ao bem-estar social das pessoas com estomias intestinais a média foi 6,33, observado pelo comprometimento nos itens referentes a interferência na intimidade, interferência nas atividades esportivas após confecção da estomia, interferência para viajar, não ter privacidade ao viajar dificultando cuidados com estoma, troca de bolsas, ao passo que o apoio familiar e de amigos foi considerado positivo. O isolamento social pode ocorrer em consequência de fatores que muitas vezes estão relacionados à ausência de atividades do cotidiano e à ociosidade, pois a pessoa com estomia sente-se insegura para retomar a sua vida, trabalhar e conviver socialmente, alterando drasticamente a sua QV. CONCLUSÃO. O processo de adaptação e aceitação de uma estomia é singular e cada pessoa vivencia esse período de forma menos traumática, dependendo do contexto e da cultura com a qual convive. A avaliação de forma holística a pessoa com estomia intestinal, se faz essencial, para realizar o planejamento de cuidados específicos.Como evidenciado pela literatura e ratificado pelos resultados obtidos nesta pesquisa, o câncer colorretal é a principal causa de estomias intestinais, portanto, chama-se atenção para a identificação do diagnóstico precoce quanto a essa patologia, a fim de determinar um tratamento em tempo hábil, o que possibilitará melhor prognóstico, e melhor qualidade de vida à pessoa estomizada5.Com esta pesquisa temos o propósito de contribuir com novos conhecimentos para a formação de novos profissionais de saúde, tais como equipe multidisciplinar, enfermeiros estomaterapêutas, que estão diretamente envolvidos no processo de cuidar, profissional necessário para o cuidado integral a esse público, assim como estimular a novas pesquisas relacionadas a temática deste público-alvo. Dentre as limitações do estudo relacionamos: o tempo de pandemia, que levou a redução do número de pessoas com estomias para aquisição de equipamentos, atividade realizada pelo familiar; a coleta por demanda, momento em que a pessoa comparecia ao serviço para buscar os equipamentos, função muitas vezes delegada a familiares e outras pessoas; indisponibilidade das pessoas em participar e recusas, em torno de 1%.