APLICATIVO PARA PESSOAS COM DISFUNÇÃO NEUROLÓGICA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR SECUNDÁRIA À LESÃO MEDULAR TRAUMÁTICA
ESTUDO METODOLÓGICO
Resumen
INTRODUÇÃO: A assistência de enfermagem à pessoa com Lesão Medular deve abranger a prevenção e tratamento das condições secundárias à lesão, bem como promover a reabilitação, auxiliando-a na evolução do autocuidado. Na prática profissional observa-se o quanto o paciente com lesão raquimedular possui carência na orientação e acompanhamento após alta hospitalar no âmbito da reabilitação urinária. Além disso, pode se observar reinternações por infecção do trato urinário, como complicação da Disfunção Neurológica do Trato Urinário Inferior, bem como alta hospitalar com cateter vesical de permanência, a qual se aplica preferencialmente na fase aguda e ainda sem acompanhamento. Buscou- se desenvolver uma estratégia de orientação e autocuidado a partir do uso da tecnologia de informação e comunicação para instrumentalizar o paciente e/ou familiar possibilitando a expansão, o fortalecimento e a sensibilização para o autocuidado, sendo de fácil acesso, didático e com linguagem simples. Mediante a necessidade de propiciar tal tecnologia almejando uma qualidade de vida a pessoa com lesão medular foi construído um aplicativo móvel o qual conduzirá essas pessoas à reflexão, ação e autonomia no cuidado, além de potencialmente diminuir, riscos de complicações. OBJETIVOS: Identificar na literatura, orientações em saúde para o controle da Disfunção Neurológica do Trato Urinário Inferior secundária à lesão medular traumática; desenvolver protótipo de aplicativo para orientação à pacientes com Disfunção Neurológica do Trato Urinário Inferior secundária à lesão medular traumática; e validar com especialistas, o conteúdo do protótipo de aplicativo. MÉTODOS: Trata-se de um estudo metodológico com abordagem quantitativa. Este estudo foi construído em três etapas metodológicas: revisão integrativa da literatura com análise de evidências científicas; construção do aplicativo a partir do modelo de Design Science Research; e validação de conteúdo por especialistas. A validação de conteúdo compôs-se de um cenário virtual com número amostral de 81 enfermeiros especialistas na área de estomaterapia e reabilitação realizada durante o período de 6 de março até 10 de abril de 2023. O instrumento de coleta de dados foi elaborado no formato de formulário online utilizando a ferramenta GoogleForms e associado ao questionário, um e-mail contendo as informações para acesso ao protótipo por meio de um vídeo que demonstrou o funcionamento do aplicativo, apresentando as telas para que o avaliador tivesse uma experiência similar a do usuário. Os dados foram submetidos à análise estatística descritiva e inferencial. Também foram analisados com base na mensuração do Índice de Validade de Conteúdo. Esta pesquisa foi submetida à análise e apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e aprovada com o número de parecer 5.476.943. RESULTADOS: Mediante a revisão integrativa de sete artigos e o referencial da teoria de Orem, resultou-se no protótipo. Nele, o layout foi organizado em formato de ícones na cor azul simbolizando serenidade e tranquilidade. O nome e a logo do protótipo, foram construídos, com o objetivo principal de se apresentar informativo e acolhedor. A escolha pelo coração simboliza o amor no cuidado, e o nome “MeduLar sem Medo” resulta na perspectiva de poder haver um cuidado em domicílio sem o medo causado pela desinformação relacionado a sua nova condição de vida, bem como, o acolhimento, o incentivo e a motivação, mesmo que virtualmente. Na primeira tela após a entrada no APP o usuário receberá uma mensagem de boas- vindas com a descrição da finalidade do aplicativo e também com uma frase motivacional . Nas telas referentes ao autocuidado a proposta é trazer o conceito em si, de maneira simples, incentivar as ações do cuidado e as vantagens quando se assim decidir e a tela composta por opções de metas à alcançar com sugestões, como estratégia de incentivar o usuário no compromisso do cuidado. Os enfermeiros especialistas que participaram como validadores do aplicativo possuíam uma média de idade entre 30 e 40 anos, 49% com tempo de atuação profissional maior a 15 anos referente a maior titulação acadêmica, 55% possuem especialização sendo destes 84% estomaterapeutas, quanto a experiência assistencial na temática, 63% a possuem com tempo superior há 1 ano, entretanto apenas 17% afirmaram possuir publicação na temática do estudo e 23% participam em grupos de pesquisa na temática, contemplando todas as macrorregiões brasileiras e ainda Espanha, Portugal e Colômbia. De forma geral, o aplicativo MeduLar sem Medo foi validado com score geral 0,98, considerado relevante ao público alvo, intuitivo, didático, rico de informações e de fácil manuseio. As sugestões de melhoria citados pelos juízes foram em sua maioria relacionadas a revisão ortográfica e gramatical, acréscimos e redução de dados, redução de termos técnicos, aumento do tamanho da fonte e interação com o usuário. A validação de conteúdo mostrou ser um potencial no processo ensino-aprendizagem além de proporcionar reflexão à pessoa com lesão medular incentivando mudança de hábitos. Com relação ao conteúdo, utilizou-se o referencial teórico do autocuidado sob um olhar singular para a pessoa com lesão medular, visto que, a adesão ao autocuidado é complexa, a reabilitação requer domínio de conhecimentos específicos técnicos e entendimento do enfermeiro as fases de aceitação da pessoa com lesão medular. Em relação a versão final do aplicativo, a linguagem mostrou ser clara, acessível e interativa. Ele possui como estratégias de interação e motivação muitas imagens e vídeos a fim de não se tornar cansativo e sim atrativo. Contem também gamificação; auxiliando o usuário mensurar seu conhecimento e ainda áudios informativos gravados pela autora com foco na sensibilização do cuidado. Possui ainda a inclusão dos diários (miccional, intestinal e a bordo) facilitando o acompanhamento e auxiliando na reabilitação da disfunção urinária. Contempla também a descrição da técnica do CIL com formato de passo a passo por meio de imagens e vídeos proporcionando diretriz ao usuário. Descreve de forma direta medidas comportamentais que deverão ser adotadas para melhor qualidade de vida. Além disso, também foi alicerçado nas principais leis que tratam dos direitos da pessoa com lesão medular com o intuito de fornecer informações por meio de um link que direciona para o site oficial. Possui a ferramenta de comando de voz com o propósito de incluir os analfabetos e os que possuem acuidade visual diminuída e ainda lembretes automáticos, para a prática frequente, do cateterismo intermitente limpo. Vale ressaltar ainda a interface para sinalização ao profissional da tecnologia da informação referente a problemas técnicos durante o uso do aplicativo, além de suporte para dúvidas e esclarecimentos relacionado à disfunção urinária, com uma enfermeira especialista, por meio de mensagens eletrônicas. E por fim, destaca-se que foi construído para as plataformas ANDROID e IOS para maior acesso e o produto não terá custos ao usuário. CONCLUSÃO: O protótipo foi construído com êxito e validado com excelência por especialistas na temática apresentando recursos importantes para o ensino do controle da pessoa com disfunção urinária e adesão a reabilitação. Além disso, também apresenta-se uma ferramenta facilitadora no processo de ensino-aprendizagem dos profissionais e acadêmicos, visto que ainda existe uma invisibilidade deste público para o SUS, sobretudo diante da carência de capacitação dos profissionais para o cuidado integral e multidisciplinar principalmente na atenção primária à saúde. Espera-se implementar no SUS por meio da Rede de Cuidados, seja na atenção primária ou especializada, em todo Brasil, reduzindo complicações e custos para o sistema de saúde por meio da educação. Como proposta futura de pesquisa validar o impacto do aplicativo na qualidade de vida do usuário e na capacitação do enfermeiro e acadêmicos na temática.