CAPACITAÇÃO EM FERIDAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA DA SAÚDE:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Resumo
INTRODUÇÃO: Na Atenção Primaria da Saúde, o atendimento a pessoas com feridas faz parte da rotina diária do enfermeiro e/ou técnico em enfermagem, sendo as feridas crônicas feridas cirúrgicas e lesões por acidentes, as intercorrências atendidas com maior frequência. Mas, apesar da demanda constante e de uma legislação específica que lhes atribuem responsabilidades nesse processo, muitos profissionais possuem dificuldades no manejo de pacientes com feridas, isso em decorrência de uma base de conhecimento fragilizada sobre o assunto. OBJETIVO: Relatar o processo de planejamento e execução de uma capacitação em feridas direcionada a equipe de enfermagem da atenção básica de um município piauiense, sobre o atendimento à pessoa com feridas. MÉTODO: Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência sobre a realização de uma capacitação para enfermeiros e técnicos de enfermagem atuantes na Atenção Primária à Saúde do município de Parnaíba- Piauí, em setembro de 2022. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A capacitação foi realizada em dois dias, de forma híbrida, por duas enfermeiras especialistas em estomaterapia. O primeiro dia da capacitação em feridas ocorreu em uma universidade de referência do município de Parnaíba-PI no turno da manhã. Discutiu-se sobre os tipos de feridas, as fases, fatores que interferem na cicatrização, avaliação das condições gerais do paciente, métodos para avaliação da ferida, métodos de desbridamento. O segundo dia da capacitação foi realizado na modalidade on-line, neste segundo momento, foi dado ênfase a falas relacionadas a atuação do enfermeiro na prevenção de feridas e discussão de casos clínicos reais tratados pela palestrante. Foi ainda apontado os tipos de coberturas mais utilizadas, destacando seu custo-benefício, levando em consideração que grande parte dos usuários possuem uma realidade de precariedade, e muitos insumos necessários não estão disponíveis na Atenção Básica. CONCLUSÃO: O treinamento apresentou boa aceitação por todos os profissionais e trouxe um despertar para o papel do enfermeiro no cuidado e manjo de feridas, além de fomentar a participação multiprofissional para um efetivo tratamento. ? INTRODUÇÃO O atendimento a pessoas com feridas faz parte da rotina diária do enfermeiro e/ou técnico em enfermagem, sendo as feridas crônicas feridas cirúrgicas e lesões por acidentes, as intercorrências atendidas com maior frequência. Nesse aspecto, entende-se que a equipe de enfermagem precisa estar preparada para prestar os cuidados e, diante da complexidade encaminhar para serviço especializado (COFEN, 2018). Apesar da demanda constante e de uma legislação específica que lhes atribuem responsabilidades nesse processo, muitos profissionais possuem dificuldades no manejo de pacientes com feridas, isso em decorrência de uma base de conhecimento fragilizada sobre o assunto (OLIVEIRA et al., 2021). Essas arestas no processo de cuidado e aprendizagem sobre feridas, inicia-se na formação inicial desses profissionais, onde se percebe uma precariedade na formação técnica e universitária da enfermagem, no que diz respeito à estomaterapia (FURTADO et al., 2019; GONÇALVES et al., 2018). Ao mesmo tempo, a fragilidade de políticas públicas específicas ao portador de lesões que norteiam a prática do profissional de enfermagem e a carência de estudos que evidenciam essa temática, a coloca como segundo plano nos serviços de saúde. Nesse contexto, além de uma graduação em enfermagem que oferte conteúdos que envolvam a avalição do paciente com feridas e curativos, a fim de que o egresso possa desenvolver competências mínimas para atender esses pacientes, é preciso buscar por capacitação que elevem seu grau de conhecimento na temática, e que se desenvolva nos serviços uma linha de cuidado protocolada. Acredita-se que a capacitação possa ampliar o conhecimento dos profissionais, e desenvolver nesses, competências próprias para o cuidado à pessoa com feridas, de modo que, os usuários não fiquem desassistidos na rede de saúde(COSTA et al., 2022). O presente relato de experiência tem como objetivo relatar o processo de planejamento e execução de uma capacitação direcionada a equipe de enfermagem da Atenção Primária da Saúde de um município piauiense, sobre o atendimento à pessoa com feridas. METODOLOGIA Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo, do tipo relato de experiência. O relato trata da jornada de organização e execução de uma capacitação para enfermeiros e técnicos de enfermagem atuantes na Atenção Primária à Saúde sobre o tema “Atendimento a pessoas com feridas na Atenção Básica, considerando a alta demanda de usuários com essas necessidades no serviço, em concomitância aos relatos de profissionais que veem uma carência de atualização sobre o assunto. O treinamento foi uma parceria entre residentes de enfermagem da Residência Multiprofissional em atenção Básica/Saúde da Família e profissionais especialista em estomaterapia de uma universidade pública do município do Piauí. O planejamento da capacitação demandou algumas reuniões entre profissionais da saúde que visavam implementar a capacitação, coordenação do programa de residência juntamente com a coordenação da secretaria municipal de saúde do município de Parnaíba, que se prontificou em liberar todos os profissionais para a capacitação. Na ocasião, foram alinhados pontos contendo os aspectos metodológicos da ação, tais como: a necessidade de recursos matérias (projetor de vídeo, equipamento de sonoplastia, impressos e recursos financeiros para eventuais necessidades e coffee break), recursos de pessoal necessários para atuar na capacitação (palestrantes, moderadores e facilitadores, responsáveis pela divulgação, matrícula e pelo credenciamento no dia da atividade, responsáveis pela organização e articulação do espaço e montagem dos equipamentos), assim como definição do local, datas e horários de execução do projeto (CARDOSO, et al., 2017). Para ministração da capacitação, a coordenação da residência e os residentes realizaram convite formal para duas enfermeiras com pós- graduação em estomaterapia. Foram coletados os dados quantitativos dos profissionais atuantes da Atenção Primária do município, que contemplaram um total de 44 enfermeiros, 64 técnicos em enfermagem e 6 residentes de enfermagem. Para a realização da capacitação, foram necessários dois encontros em dias distintos em setembro de 2022, sendo o primeiro encontro presencial e o segundo remoto. A divulgação da capacitação foi realizada via memorando impresso, encaminhado pela coordenação de Atenção Básica a todos os profissionais de enfermagem atuantes nas Unidades Básicas de Saúde do município, com uma antecedência de 15 dias. RESULTADOS E DISCUSSÃO O primeiro dia da capacitação em feridas ocorreu em uma universidade de referência do município no turno manhã. A priori, a capacitação foi ofertada para técnicos e enfermeiros da Atenção Básica, porém, outros profissionais solicitaram a oportunidade da participação na capacitação. Assim, houve a presença de outras categorias profissionais. Participaram da capacitação 45 enfermeiros, 35 técnicos em enfermagem, 4 residentes de enfermagem, 5 residentes de fisioterapia, 4 residentes de psicologia, 2 residentes de farmácia, 2 médicos e 8 estagiários de enfermagem, totalizando um quantitativo de 101 pessoas inscritas na capacitação. A capacitação iniciou com as boas vindas do público presente, a ministrante fez uso de metodologias ativas de participação e integração com o público. Como ponto de partida para abordar a temática, foi trazida a Resolução 567/2018, que regulamenta a atuação da Equipe de Enfermagem no Cuidado aos pacientes com feridas (CARDOSO et al., 2017). Adentrando na temática abordada pela palestrante, discutiu-se sobre as fases e tipos de cicatrização, fatores sistêmicos e locais que interferem na cicatrização, avaliação das condições gerais do paciente (História Clínica + Exame físico), tipos de feridas, métodos para avaliação da ferida, métodos de desbridamento e exemplos de produtos que fazem desbridamento autolítico e enzimático, assim como antimicrobianos a exemplo do PHMB e a prata, inclusive levando materiais para conhecer sua apresentação pessoalmente. Dentre as principais dúvidas que surgiram durante a capacitação destacaram-se perguntas relacionadas as formas de uso de determinadas coberturas e correlatos, frequência de troca do curativo, conduta diante de feridas infectadas, e o que fazer frente a escassez de insumos na APS para o tratamento de feridas. Dúvidas essas que foram sanadas ainda durante a exposição. O segundo dia da capacitação foi realizado na modalidade on-line, via plataforma digital, buscando contemplar as demandas levantadas com o instrumento de avaliação da primeira parte do curso. Todos os inscritos receberam um link previamente pelos canais de comunicação. A ministrante iniciou falando da importância do enfermeiro nos cuidados as feridas na Atenção Básica para redução de casos complexos e complicações a nível hospitalar. Neste segundo momento, foi dado ênfase a falas relacionadas a atuação da APS na prevenção de feridas e discussão de casos clínicos reais tratados pela palestrante. Foi ainda apontado os tipos de coberturas mais utilizadas, destacando seu custo-benefício, levando em consideração que grande parte dos usuários possuem uma realidade de precariedade, e muitos insumos necessários não estão disponíveis na Atenção Básica. Fator esse que reforça os relatos dos profissionais no primeiro dia da capacitação. Frente ao processo de cuidar foi abordado a necessidade de um trabalho multiprofissional no cuidado ao usuário com lesão na atenção básica, reforçando que o usuário é o protagonista e todos devem estar dispostos a cuidá-lo. Por fim, a capacitação foi finalizada após um momento para as dúvidas. CONCLUSÃO O treinamento apresentou boa aceitação por todos os profissionais e trouxe um despertar para o papel do enfermeiro no cuidado e manjo de feridas, além de fomentar a participação multiprofissional para um efetivo tratamento. Salienta-se a necessidade de treinamento contínuo sobre a prevenção, avaliação e tratamento de feridas, bem como suporte dos gestores para “equipar” os serviços de saúde para o recebimento dessas demandas.